segunda-feira, 28 de junho de 2010



Nostalgia dos brinquedos




Foi ao lado mesmo ao lado

no nosso monte em harmonia

ainda no campo em folia

que cavei minha leira, devotado



Pequenina, retângular

como um túmulo disfarçado

mão aberta semeei esperançado

e a esperança fez brotar




Minha leira de cenouras

a Única, a Minha

o sonho, o brinquedo já eu tinha

sob a face das lavouras



Ramas verdes depressa brotaram

Brinquedos que se brincam

com devoção sagrada


domingo, 27 de junho de 2010


NA CARNE

I

Na carne
corre veloz, encarnado nectar
alimentando meu corpo
que expira exangue
de incandescente veneno
minha carne não pára de crescer
perfeito e visivel cadáver
insaciável
de ejaculado nascer
Minha alma não me quer
por tanto querer
eu, instinto carnal
veneno em embrião
meu corpo,celestial imperfeição

Na carne
é meu coração um mar de nectar

ilusão

prazer

violação

Todo eu carne, faminto animal

na glória,na paixão
E tu,conheces-me?

Tu,celestial monstro carnudo

de coração aberto[...]

para me despedaçar a alma[...]

De alma asfixiada no vazio

apodreço entre escolhos

e só minha carne quer viver.

II

Na carne

sinto amolecido pelo veneno

meu corpo cansado de prazer

minha alma, longinquo e humilhado ser.

Ah! Maldita sejas matéria fingida,

tua sede não tem mais fim,

sabes-te mortal,inconsistente
e teu mêdo humilha-me a alma
vê como és desprezível!

Vê o quanto te odeio

por teu gesto traiçoeiro

queres com avidez e ganância

porque cedo te ressentiste dos teus limites

dependes de mim para tua satisfação.

Eis o mistério da carne

eis que quando descoberta se submete

e o julgamento será rigoroso.

Eu dou testemunho de mim

defendo meu espirito

o juizo é frio,consciente

na carne o eterno réu.

A sentença não se faz esperar

e em consciência decretou:

Na carne e sobre a carne

vive o espirito feito homem

e este será o seu amo

enquanto nela habitar.

III

Na carne

sinto grande aflição

é meu corpo em transfusão

crucifico toda a carne,

esmago-a,esmago até o coração

E por meus olhos sinto verter

o puro nectar,translúcido

sinto abraçar-me o espirito

sinto o coração a doer

Doi-me de feliz, doi-me de feliz

Doi-me o punhal

como uma seta apontado

a meu corpo feito alvo

Dessa dor vem minha fé

dádiva da suprema verdade

que empunha esse punhal

com a mão da eternidade

IV

Na carne imperará o sacrifício

que este punhal me impõe

meu corpo não parará

em humildade crescente

Terei dores em todo o corpo

meu dever estará cumprido

há-de vir o dia novo

para de novo doer

este sacrifício no corpo
que doi mais do que morrer


Deus assim me quis

em carne e osso na terra

mas confesso a meu espirito

que é perfeito em perfeição:

Não sei porque fizeste ó Deus,

os homens em carne e osso,

se foi para vencerem a morte

se foi para perderem a vida[...]?

Ai! esta fé que me leva à verdade

que me cega na realidade

que me leva a ignorar tudo

o que os meus olhos já viram!!!

V

Na carne

tantos outros já choraram,já riram

tantos sonharam e quantos fingiram

que era sangue o veneno

que nos atiram.

Na carne sinto desejos imensos

o corpo mole, os braços tensos

sinto instintos pretensos

de quem mata enormes dores

com enormes sensos.

Minhas pernas são como o mato

cresceram-me pelo corpo abaixo

e ganharam a forma de um cato

e ao centro o horror de macho

VI

Na carne tudo é contamina

veloz, tudo muda e desmuda

mas há algo que domina,

a bactéria,o virus,a droga da medicina...

Natureza bruta , inefável

uma alucinação de constante incerteza

VII

Ricos filhos de pobres Deuses

Deuses ricos de filhos pobres

se somos livres já morremos

se estamos envoltos no passado

no futuro vivemos ,....O presente?

Naureza, coisa danada

divindade é caridade

pobres daqueles que se julgam divinos,

desgraçados, é só peste no corpo,

no chão, em tudo.

É tudo desconexado, é um pavor.

Que mais há?Que mais?

Deuses, coisas celestes como eu?

Natureza com ares de perfeição?

Beleza?

Tudo isso existe,intocável,inato

É tudo podridão e quanto mais se prova

mais se é vão.

PUTA VIDA DO PERDÃO

Na carne eu quero morrer!

Por mim escrito em 27-6-1990