sábado, 16 de abril de 2011

Carta aos meus amigos

Escrevo esta intima memória de mim Para todos aqueles que me querem, Que eu quero.

Para todos aqueles que um dia possam estar sós, Sem ninguém, sem nada,

que e pensem e sintam e que Tenham a coragem de mergulhar

nessa fonte De abismal transparência na qual a matéria quase Não se vê

ou apenas se vê em função da alma

e Dentro da qual se pode sentir intensa e justamente Como somos tão pequenos,

como somos pobres e como Todos os bocadoos de felicidade que temos

são sempre Consequência da nossa luta e esforço para a ter

e Nunca algo ao acaso.

Podemos dár-nos conta do que temos e do que queriamos Ter

e verificar que sempre queremos demasiado

Para aquilo que merecemos na verdade,

Na verdade somos todos bastante egoistas.

Todavia nesta fonte a água mata, mata-nos a todos

Afogando-nos e levando-nos cada vez mais para o fundo,

Para o fundo de si, para o fundo de nós,

onde possamos Sentir que o ar se necessita urgente,

sentir o que o Mundo nos dá e o que dámos ao mundo,

muito pouco ou nada.

Lá no fundo quando estamos reduzidos ao nosso verdadeiro Tamanho,

temos mêdo de voltar a querer ser Grandes

porque intuitivamente sabemos que isso acontece,

Constante e consecutivamente

e nesses momentos não nos Dámos conta do tempo que perdemos

e do quanto nos Tornamos egoistas e idólatras,

esquecendo-nos do que Lá bem no fundo sabemos,

os nossos limites, a nossa Suscetibilidade de perversão,

enfim a nossa incrivél e Desajustada imperfeição,...

um monstro...!

Sei que é dramático isto porque na verdade nunca Deixaremos de sonhar,

de querer, de buscar sempre e Sempre seguindo essa ilusão

para que depois dela Voltemos ao fundo, à nossa fonte,

para que nos mate mais Um pouco,

é o preço do sonho, da busca, do querer tanto e tanto.

É desagradável descobrir-se a verdade,

essa fonte que Nos mata e nos faz julgar como homens de fé e de bem Que podemos ser,

mas não há maior alegria do que Sentir-se morrer, morrer até ao fim, até ao fim de nós,

Egos supersticiosos e imensos, até ao mais sublime Estado de humildade e de fé,

essências (de) do renascer, Sementes dos homens que morrem porque querem viver.

É uma questão que me faz tremer ao escrever o meu Viver, o meu sentir

e o meu decobrir mais intimo mas não Tremo de mêdo, tremo de verdade.

Talvez possa por estas palavras de humilde viver Explicar-vos intimamente

e contar-vos só a vós amigos Meus que tudo mereceis de mim,

toda esta odisseia Sobre a verdade que se descobre na rua,

Nos lugares de ninguém.


Deste que vos quer muito.


barcelona 1-10-1991

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